sábado, 14 de fevereiro de 2009

Por que a dor existe? Para que se faca cinema. A Berlinale vista por uma filosofa

Um pouco da Berlinale visto por uma filósofa.

Ao acompanhar a Berlinale, nos vem a mente a expressao de Hegel: filosofar é transformar seu tempo em conceito. Talvez neste ocaso da Filosofia no inicio do seculo XXI, o cinema cumpra agora esse papel de traducao do que acontece, nao mais através de conceitos, mas de imagens. E as imagens que vemos nas grandes telas do 59. Festival de Berlim mostram as feridas do mundo. Nada mais propício para isso do que a Alemanha, aqui onde as grandes atrocidades foram cometidas e cujas feridas ainda estao abertas.

Depois de alguns dias de Berlinale, o cinema parece ter a missao de falar sobre a dor, de curá-la e exorcizá-la atraves de imagens em movimento. Assim ,vemos em Cherri a dor de uma cortesa que se separa de um amante mais jovem, vemos a miséria e a alegria do Peru e da América Latina em La Teta assustada, sentimos a ilusao e desilusao amorosa da adolescente em A Education, assistimos à terrível descricao de um estupro em Kataklin Varga. Morte ,amor, decadencia, traicao, guerra, violência, disso tudo vive a arte e dela se alimenta. Feridas novas e antigas: faixa de Gaza, guerra no Iraque e, ainda, no instigante The Reader, a sombra dos campos de concentracao nazistas.

Todas as feridas do mundo estao aqui e nao passaram, nem passarao. O que se pode fazer sobre elas? Ou, numa resposta à uma pergunta metafísica que sempre assolou os filósofos: se Deus é bom, porque existe a dor? E uma resposta de Berlim: para que se faca cinema.


abs,
Dudi de Berlim

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009