Seria a inteligência um atributo masculino? Segundo o filósofo Immanuel Kant, a mulher poderia chegar a ter inteligência, contudo, com isso ela despertaria apenas respeito do homem, mas não mais seu amor e perderia todo o poder que ela poderia ter sobre o sexo forte. Tal é dito no texto Observações sobre o sentimento do belo e do sublime.[1] O esforço na Ciência é sublime, pesado, portanto é masculino; o sexo feminino é belo, leve, ele apraz imediatamente. O enorme esforço para entender Descartes, Leibniz, as equações de Newton desperta o sentimento do sublime, não do belo, por isso é contrário à natureza feminina. Elas poderiam se deixar levar por esta dura empreitada, contudo, perderiam aquilo que nelas agrada imediatamente, sua beleza e leveza:
“O estudo laborioso ou a especulação penosa, mesmo que uma mulher nisso se destaque, sufocam os traços que são próprios a seu sexo; e não obstante dela façam, por sua singularidade, objeto de uma fria admiração, ao mesmo tempo enfraquecem os estímulos por meio dos quais exerce seu grande poder sobre o outro sexo.”[2]
Kant vai se referir a algumas mulheres do século XVIII que ousaram adentrar em campos do conhecimento considerados masculinos: Anne Dacier ( 1654-1720) comentou e traduziu clássicos grego-romanos e Gabrielle Emilie (1704-1749), marquesa de Châtelet intimamente ligada a Voltaire, traduziu e comentou os Principia de Newton:
“A uma mulher que tenha a cabeça entulhada de grego, como a senhora Dacier, ou que trave profundas discussões sobre mecânica, como a Marquesa de Châtelet só pode mesmo faltar uma barba, pois com esta talvez consigam exprimir melhor o ar de profundidade a que aspiram”.[3]
Para amar alguém, precisamos nos sentir superior a tal pessoa: “Nós precisamos mais ser honrados do que amados, mas nós também precisamos algo para amar com que não estejamos em rivalidade. Então amamos pássaros, cachorros ou uma pessoa jovem, inconstante e querida.” (R 1471, 15:649).
Teria Kant ainda razão? A pergunta “Seria a inteligência um atributo masculino?” se transformaria em “queremos ser inteligentes e despertar apenas o respeito masculino e não mais seu amor”? A inteligência “estraga” as mulheres?
Poder e inteligência são tradicionalmente atributos eróticos masculinos e beleza e juventude atributos eróticos femininos.
Talvez alguns se lembrem ou tenham visto documentário sobre a tentativa de Henry Kissinger aproximar-se da China comunista. Numa histórica reunião entre o então presidente Mao Tse Tung e Henry Kissinger, para quebrar o gelo daquela que devia ser uma das mais tensas reuniões da política do século XX, Mao Tse Tung arriscou uma primeira pergunta a Henry Kissinger. Como ele, sendo tão gordo, fazia tanto sucesso com as mulheres? Ao que ele respondeu com a famosa frase: o poder é afrodisíaco.
Assim como Kant, Kissinger também sabia que o poder era afrodisíaco, desde que fosse um atributo masculino. O poder e o saber são afrodisíacos, enquanto propriedades do homem. Isso pode ser tomado em dois sentidos: as mulheres são atraídas por homens que possuem tais qualidades, sem dúvida. Mas existe um outro sentido, inexplorado nesta afirmação de Henry Kissinger: os homens gozam o próprio espetáculo narcísico de exibição de seu poder e saber, espetáculo que excita, antes de tudo, a eles próprios. O espetáculo de inteligência feminina roubaria a cena e tornaria aquele contato anti-erótico.
[1] Kant, Observações sobre o belo e o sublime (Campinas: Papirus, 2000).
[2] Ibid., p. 49
[3] Ibid. p. 49
[4] Ibid. p. 25
sábado, 27 de dezembro de 2008
sábado, 20 de dezembro de 2008
Carta aberta ao jornalista Fifo: Trop c'est trop
Caro Fifo:
Em francês há uma expressao que diz "Trop c' est trop!, que poderia ser traduzida por "já está demais". Entao eu gostaria de usar essa expressao para expressar a minha indignacao relativa à exposicao e crítica que voce faz ao cineasta Zeca Pires no seu blog. Diria como os franceses: "trop c' est trop"! Sua carta ao cineasta expoe uma das maiores figuras da arte catarinense sem nenhum propósito construtivo.
Sei que , ao final do ano, os cérebros ficam cansados e sem idéias, mas sugiro que, na falta de assunto, voce discuta, entao, a política de fomento do Estado de SC, suas leis de incentivo à cultura, a dificuldade de captacao etc. Ou seja, algo que edifique, algo que inspire, algo que ofereca um horizonte promissor àqueles que já lutam com tanta dificuldade pela Arte.
Inspire-se no clima natalino e faca algo de bom e útil ao cinema catarinense.
da Dudi
Em francês há uma expressao que diz "Trop c' est trop!, que poderia ser traduzida por "já está demais". Entao eu gostaria de usar essa expressao para expressar a minha indignacao relativa à exposicao e crítica que voce faz ao cineasta Zeca Pires no seu blog. Diria como os franceses: "trop c' est trop"! Sua carta ao cineasta expoe uma das maiores figuras da arte catarinense sem nenhum propósito construtivo.
Sei que , ao final do ano, os cérebros ficam cansados e sem idéias, mas sugiro que, na falta de assunto, voce discuta, entao, a política de fomento do Estado de SC, suas leis de incentivo à cultura, a dificuldade de captacao etc. Ou seja, algo que edifique, algo que inspire, algo que ofereca um horizonte promissor àqueles que já lutam com tanta dificuldade pela Arte.
Inspire-se no clima natalino e faca algo de bom e útil ao cinema catarinense.
da Dudi
domingo, 14 de dezembro de 2008
Ética e Cinema
Aos artistas nunca se exigiu ética e muitos foram perdoados pela história quando colaboraram com o regime nazista em nome de sua arte. Mas em tempos que nao sao de guerra, será possivel aceitar que o cinema seja o lugar do vale tudo e que uma pessoa seja penalizada por erros que nao foram seus? A Estética e a Ética sao domínios tao independentes que nao se encontre nenhum resquício desta naquela?
O recente épisódio de desclassificacao do filme Olhos Cegos, direcao de Maria Emilia Azevedo e produção de Zeca Pires nos faz notar a necessidade de questionamentos éticos também na esfera da arte.
O cineasta Zeca Pires está sendo penalizado por nao ter finalizado um filme, A Antropóloga, para o qual o governo do Estado nao repassou as verbas no tempo devido. Ao mesmo tempo, quem impetrou o recurso visando sua desclassificacao de Olhos Cegos foi a cineasta Tania Lamarca que faz parte da equipe de produçãoo do longa A Antropóloga. Nada contra recursos, eles fazem parte da democracia e do Estado do Direito. Mao nao deveríamos esperar aqui um pouco de solidariedade de alguém que conhece as condicoes pelas quais A Antropóloga nao foi finalizado, pois fazia parte da equipe de producao? Ou solidariedade e decência sao termos que nao podem ser aplicados ao cinema? Seria o cinema, assim como a guerra, um lugar onde tudo o que é ético se desvanece e perdermos a noção de bem e mal?
A desclassificação pela FCC do filme Olhos Cegos devido a erros do próprio governo do Estado fariam corar, pela sua injustica, ate mesmo os idealizadores dos regimes de excecao.E nos leva à reflexão da necessidade da ética na arte.
O recente épisódio de desclassificacao do filme Olhos Cegos, direcao de Maria Emilia Azevedo e produção de Zeca Pires nos faz notar a necessidade de questionamentos éticos também na esfera da arte.
O cineasta Zeca Pires está sendo penalizado por nao ter finalizado um filme, A Antropóloga, para o qual o governo do Estado nao repassou as verbas no tempo devido. Ao mesmo tempo, quem impetrou o recurso visando sua desclassificacao de Olhos Cegos foi a cineasta Tania Lamarca que faz parte da equipe de produçãoo do longa A Antropóloga. Nada contra recursos, eles fazem parte da democracia e do Estado do Direito. Mao nao deveríamos esperar aqui um pouco de solidariedade de alguém que conhece as condicoes pelas quais A Antropóloga nao foi finalizado, pois fazia parte da equipe de producao? Ou solidariedade e decência sao termos que nao podem ser aplicados ao cinema? Seria o cinema, assim como a guerra, um lugar onde tudo o que é ético se desvanece e perdermos a noção de bem e mal?
A desclassificação pela FCC do filme Olhos Cegos devido a erros do próprio governo do Estado fariam corar, pela sua injustica, ate mesmo os idealizadores dos regimes de excecao.E nos leva à reflexão da necessidade da ética na arte.
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